Nos últimos meses as embalagens de embutidos e carnes processadas começaram a estampar o selo de alerta de que contém transgênicos. Presuntos, linguiças, salsichas, mortadelas, bacon, patês e outros embutidos recebem na sua composição derivados de soja e milho geneticamente modificados. E agora esta informação está sendo disponibilizada ao público por meio do triângulo amarelo com o “T” indicativo. Até agora as indústrias omitiram presença de transgênicos em carnes e embutidos.
O ingrediente geneticamente modificado mais usado é a proteína de soja, que tem propriedade que favorecem a ligação de água e gordura e interfere positivamente na textura. Além disto, a proteína também tem capacidade emulsionante e contribui com a aparência final do produto e na estrutura que resulta em capacidade de corte. O amido de milho também é utilizado com os mesmos objetivos.
Acontece que 94% da soja e 85% do milho cultivados no Brasil são transgênicos.
Se por um lado a inclusão do selo de alerta é uma boa notícia, por outro fica claro que durante anos as indústrias omitiram o uso dos geneticamente modificados, o que é uma afronta aos direitos dos consumidores. Estaria sendo descumprido o Decreto 4.680/03, que determina a rotulagem de alimento ou ingrediente alimentício com a presença de Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
Ao que tudo indica, os transgênicos compõem tais produtos há muito tempo, mas a informação não era fornecida ao público. Em 2017, durante o Agroecologia 2017 – 6º Congresso Latinoamericano de Agroecologia, pesquisadores de nutriçãoda Universidade Federal de Santa Catarina apresentaram um estudo demonstrando a presença de transgênicos em 49,2% de 496 produtos pesquisados. A maior concentração foi encontrada nos subgrupos de peito de peru e patês. A proteína de soja, detectado em 217 alimentos do grupo (43,7%), foi o ingrediente mais usado, seguido do amido de milho, que estava em 27 itens (5,4%).
O Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC trava luta permanente pela correta rotulação dos produtos, com transparência sobre os ingredientes para o comprador. O modelo dos triângulos foi proposto pelo IDEC em parceria com especialistas em design da informação da Universidade Federal do Paraná – UFPR. Pesquisas já comprovaram que o triângulo é a forma mais eficaz de informar o consumidor na hora da compra, e até a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, em um de seus relatórios deixou isso claro.
A dúvida evidente é porque só agora o selo do “T” apareceu nos embutidos e carnes processadas. Perguntamos, por e-mail, à BRF (que no Brasil produz os produtos das marcas Sadia, Perdigão, Kidelli, Qualy e Deline) se a inclusão nos rótulos decorre de adequação à legislação de rotulagem ou inclusão de novos ingredientes nos produtos. Por meio de sua assessoria de imprensa respondeu que “a BRF segue a legislação vigente no Brasil e informa a presença de ingredientes geneticamente modificados na rotulagem de todos os alimentos que produz com esses ingredientes”. Ou seja, foi evasiva com relação à recente inclusão.
Também questionamos a empresa sobre a sua política para utilização de ingredientes geneticamente modificados e a resposta foi que “a BRF tem como compromissos absolutos a Qualidade, Segurança e Integridade e quanto à utilização de ingredientes geneticamente modificados nos seus alimentos, respeita a legislação vigente”.
A inclusão do “T” nas embalagens que vêm de fábricas não resolve um problema sério: quando são fracionados pelos supermercados e oferecidos reembalados não há sinalização a presença de transgênicos na embalagem dos produtor. Frios fatiados são o exemplo mais evidente, mas também há salsichas, linguiças e outros produtos vendidos em porções.
As falsetas e truques na rotulagem envolvem outros produtos nocivos à saúde. Muitos produtos que anunciam em suas embalagens “zero gordura trans” contém gordura trans. Um estudo desenvolvido pelo Nupens/USP (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública da Universidade de São Paulo) mostram que diversos produtos alegam não ter a substância, embora ela esteja presente na sua composição. VEJA MATÉRIA COMPLETA AQUI.
São graves e diversos os risco aos quais a saúde fica exposta quando o organismo ingere transgênicos. Um deles é o aumento das alergias. “Quando se insere um gene de um ser em outro, novos compostos podem ser formados nesse organismo, como proteínas e aminoácidos. Se este organismo modificado geneticamente for um alimento, seu consumo pode provocar alergias em parcelas significativas da população, por causa dessas novas substâncias. Por exemplo, no Instituto de Nutrição de York, Inglaterra, em 1999, uma pesquisa constatou o aumento de 50% na alergia a produtos à base de soja, afirmando que o resultado poderia ser atribuído ao consumo de soja geneticamente modificada”, informa o site do IDEC.
Outro risco importante é o aumento da resistência a antibióticos. Isto ocorre porque no processo de modificação genética há uso de genes de bactérias resistentes a antibióticos.
O site do IDEC tem um amplo material explicativo dos riscos de se consumir alimentos com ingredientes transgênicos.
Mas quem adora frios e assemelhados no seus dia-a-dia? Em primeiro lugar é preciso buscar alternativa de fornecedores. Há nas feiras excelentes produtores de salames, linguiças, mortadelas, bacon. Pequenos produtores artesanais tendem a preparar produtos curados de maneira natural, sem adições químicas.
Também há as charcutarias artesanais, geralmente com produtos de excelente qualidade. No entanto, não descarte alternativas caseiras. Um bom rosbife (veja uma receita aqui) cumpre bem o papel, cortado bem fininho. Ter uma carne assada – pode ser lombo de porco, ou peças bovinas como lagarto, filé mignon ou mesmo um bom contrafilé. Um bom assado tem boa durabilidade na geladeira – coisa de uma semana – e pode ser fatiado para sanduíches e lanches.
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