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Nos últimos dois meses, passei boa parte do meu tempo entrando e saindo de avião. Cruzei o país. Comi todos os tipos de sanduíches oferecidos pela TAM, como eles dizem “a companhia aérea membro da Star Alliance”. (Grande coisa, o sanduíche era horrível! rs)

Fiquei em hotéis que ofereciam bons cafés da manhã, mas ofereciam comida de razoável a péssima, como se essa fosse a regra dos hotéis: comida não pode ter personalidade. Ok, meu padrão não era cinco estrelas. Nos hotéis por onde andei não ofereciam pantufas, nem roupão. Mas eram hotéis que se diziam, muitas vezes, de quatro estrelas (e no preço eram!).

Como o meu tempo era bem ocupado pelo trabalho, tentava conhecer um pouquinho do lugar onde estava pela gastronomia. Tarefa nem sempre fácil. Às vezes porque perto da área portuária não havia muitas opções, outras vezes pela praticidade mesmo, considerando-se que viajar a trabalho e sozinha limita bastante algumas explorações.

Algumas coisas que vi pelo caminho foram interessantes, a gastronomia regional é uma delas. No nordeste pude ver e provar coisas entre estranhas e deliciosas. É uma gastronomia na qual a noção do prato típico é muito forte.

Fato que me trouxe muita coisa a pensar: Típico de quem? Pra quem? Por vezes pareceu-me que o típico é associado a uma ansiedade turística dotada de forçar coisas simples a se tornarem exóticas. Tudo para que os turistas saciem sua vontade de experimentar o que os “nativos” vivem…

Isso me provocou alguns desconfortos. Digamos que é bem diferente comer um vatapá no restaurante escola do Senac, de Salvador, no Crioula’s, em São Luiz – MA, ou na padaria restaurante que oferece o prato no café da manhã aos trabalhadores das salinas, lá em Areia Branca, RN. Pensar no típico me levou a pensar no quanto precisamos do exótico como ponto de partida para nos diferenciarmos. Sim, queremos conhecer um pouco da cultura de cada lugar… mas será que a indústria do turismo não dita cada dia mais os sentidos culturais de cada região? Como explicar que um país com esse imenso litoral, que tem na pesca uma fonte de sobrevivência, tenha nos cardápios dos restaurantes o peixe como a coisa mais cara, com preço de fina iguaria, muitas vezes? Sinceramente ver mulheres fantasiadas de baianas, para posar em fotos de turistas não me diz nada sobre o que é a Bahia. E a baiana? É só mais uma trabalhadora tentando ganhar a vida.

Confirmei que na gastronomia regional o uso da mandioca é a base para a produção de vários produtos e pratos e diferentes farinhas. Um alimento singular presente nos cardápios do norte ao sul. Uma riqueza realmente brasileira. Poderia falar ainda dos temperos como o uso do coentro na comida do nordeste, o dendê, o coco, as pimentas (nenhuma novidade até agora, eu sei! Mas acho que o fantástico não está na novidade e, sim, na obviedade das coisa… ali que mora o requinte.)

O fato é que no Maranhão tem o arroz de cuxá, mas todo mundo adora um churrasco também. O beju, ou a tapioca são gostosuras que não se limitam às fronteiras de cada região.

Foi maravilhoso conhecer um tantão de gente bacana que me recebeu Brasil afora. Foi ótimo provar um monte de coisa que só sabia que existia pela literatura, como mangaba, por exemplo. Mas volto pra casa com a sensação que é impossível provar o típico. Que o meu bobó de camarão é tão, ou mais, típico que o bobó que comi num shopping em Recife.

Tenho Alex Atala como referência, por ser um chef que atualmente tenta valorizar os sabores e produtos brasileiros, para pensar que no Brasil temos muitas e excelentes possibilidades gostrônomica (era para ser gastronômicas, mas gostei do termo…rs).

Volto pra casa conhecendo um pouquinho mais do Brasil. Muito menos do que eu gostaria, bem sei,  mas cheia de ideias, de vontade de cozinhar e de experimentar.

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