Vivemos dias inusitados e inéditos. Precisamos reaprender atividades simples, rever a rotina, repensar a vida íntima e a social, reconsiderar as relações de trabalho e consumo. Fomos forçados a parar, esperar e, daqui a pouco, teremos de recomeçar. Enfrentar essa situação é inevitável, mas tudo pode ser menos difícil se buscarmos algo cujo valor foi relativizado nesta era de hiperconectividade: a estabilidade.
Estabilidade emocional. Estabilidade política. Estabilidade financeira. Estabilidade social.
Precisamos de estabilidade para, com calma e consciência, avaliarmos o que podemos fazer com o que está ao nosso alcance. Estabilidade no presente para encarar o futuro incerto.
Muito me agrada ver como as pessoas se voltaram às suas cozinhas. Quem diria que, em plena crise global (Global, ok!? Global.), páginas como o Cozinha a Dois se fizessem tão importantes para dar cor, aroma e sabor às quarentenas mundo afora. E é assim que transito para o tema que me cabe neste pedacinho de conteúdo no meio do mar cibernético.
Existem diversas maneiras de definir o que é cerveja ou de distingui-la das demais bebidas alcoólicas conhecidas. Algumas interpretações são técnicas, outras até legislativas. No Brasil, por exemplo, a lei diz que cerveja e chope são coisas diferentes. É um pouco difícil explicar isso para quem não é deste canto do planeta, mas esse papo fica para outro dia.
Também não vou gastar estas despretensiosas linhas com o que seria a melhor definição de cerveja. Quero me ater, hoje, a uma característica que fundamenta o pão líquido nosso de cada dia: a espuma estável.
Cerveja é um produto gaseificado, como tantos outros, sejam ou não alcoólicos. E, como ocorre com qualquer líquido gaseificado, na hora do serviço – quando a bebida é despejada no copo –, forma-se espuma. Venha ela da chopeira, da garrafa de vidro, da latinha, da garrafa PET, seja refrigerante, cerveja, champanhe, água com gás, frisante, kombucha, o que for… caiu no copo, forma espuma. Isso acontece porque, no momento em que migra para outro ambiente, o líquido deixa desprender o gás que continha diluído enquanto a bebida se encontrava no seu vasilhame de origem.
Não é um conceito muito simples, mas é isso. Entretanto, qual bebida mantém essa espuma formada sobre o líquido? De quais outras bebidas você já ouviu falar sobre “colarinho”? Cerveja, né, minha querida e meu querido. Espumante, tônica, refri, botou no copo, forma espuma e… morre. Na cerveja, a espuma fica.
Espuma é indício técnico de qualidade da cerveja. Uma espuma cremosa, bem formada, com bolhas finas (sem parecer espuma de sabão) agrada o consumidor de imediato, tanto no aspecto visual quanto por ser o primeiro contato que haverá entre a boca e a bebida. Uma espuma bem formada é poesia, é o belo na cerveja. O bigode que fica depois do gole é meio piegas, ok, mas é preciso reconhecer também o valor moral do brega, o quanto uma dose de cafonice é capaz de equalizar nações sem as depreciar. Não há classe social que escape ao bigode de espuma.
Além da quarentena, o outono nos trouxe seu ar fresco. Então, é tempo de pensar em comidas quentes e que todo mundo consegue fazer. Isso me fez pensar em carne de panela, como uma que a Soninha e o Gastão prepararam em agosto de 2011 (mate saudades aqui).
Para harmonizar, sugiro uma Weizenbock. É que, do imenso universo de cervejas catalogadas, as de trigo tipicamente apresentam espumas maravilhosas, daquelas que podem ser apreciadas de colher. O trigo é um grão muito rico em proteínas e isso favorece a retenção da espuma formada. Em relação à Weizenbier, a tradicional cerveja de trigo alemã, a Weizenbock é mais encorpada e alcoólica, o que o ajudará a curtir o friozinho da estação.
Bom proveito. Fique bem. Fique em casa!