Casa arrumada

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casa arrumada
A nossa casa é nosso templo de alegrias. É um recanto que abriga os amigos e os parentes que precisam de um canto, um ombro, uma comidinha reconfortante ou mesmo um pileque pra esquecer as agrúrias da vida.
A nossa  casa fica mais viva com os encontros e as celebrações que aqui fazemos. Nada com muita etiqueta, mas com aquele jeito simples de dizer: Fique à vontade!
Na nossa casa a gente canta pra espantar os males. Toma chá, café e espumante pra botar uma conversa fora. A gente “perde” muito tempo na cozinha e perder, neste caso, é ganhar. A gente vibra com um bom livro e se emociona com um bom filme.

A nossa casa, como bem canta o Arnaldo Antunes, parece um ninho, de tantos que são os passarinhos que cantam pela manhã.
A casa da gente precisa ter alma e ter paz. Que lindo seria se tod@s tivessem. Somos privilegiados e sabemos bem disso. Por tudo isso hoje celebramos a vida com este poema do Drummond.

CASA ARRUMADA

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa
entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um
cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os
móveis, afofando as almofadas…
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:

casa arrumada

Aqui tem vida…
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto…
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos…
Netos, pros vizinhos…
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias…
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…
E reconhecer nela o seu lugar.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

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