Aprendi a receita clássica de bacalhau ao Brás, de forma inusitada. Estava no supermercado lotado num daqueles dias de véspera de feriados de Páscoa. Já na longa fila para passar pelo caixa ouvi alguém chamar meu nome.
– Gastão! Vais fazer bacalhau?
Era meu amigo José Antônio Stalliviere, gourmet dos bons, que estava umas quatro filas adiante. Quando respondi que sim, mostrando de longe um pedaço de lombo de bacalhau ele disparou insistentemente:
– Faz ao Brás, faz ao Brás!, disse o Zé.
E começou a ditar as instruções a longa distância, tendo o público que se acotovelava entre os carrinhos de compras como testemunha e plateia. Eu, para lá de interessado, memorizava todos os passos e vez que outra pedia um detalhe. Tudo aos berros, como exigia a circunstância.
Quando finalmente paguei minhas compras e comecei a juntar as sacolas para partir, a senhora que estava atrás de mim na fila me puxou pelo braço:
– Meu filho, o que vai depois dos ovos?
A receita
Bacalhau ao Brás se faz com o peixe em lascas. Após o ritual de dessalgamento de pelo menos dois dias (três é o ideal), coloque os pedaços em água ou leite fervente, com uma folha de louro e grãos de pimenta. Desligue o fogo, tampe a panela e deixe o bacalhau escaldando por não mais do que cinco minutos. Só o tempo das lascas abrirem naturalmente.
Escorra, seque e desmanche as postas em lascas. Para duas pessoas, uns 300g são suficientes.
Numa panela ou frigideira com o fundo bem coberto com azeite de oliva de boa qualidade, coloque uma cebola grande cortada em rodelas. Quando a cebola murchar é hora de entrar o bacalhau em lascas e deixar tudo refogar bem. Adicione então meio copo de azeitonas pretas sem caroço.
Neste ponto acrescente três ovos previamente batidos e mexa com energia, mas com cuidado para não esfacelar o bacalhau. Enquanto os ovos vão “dando a liga” acrescente uma farta quantidade de batata palha (de preferência feita por você mesmo, mas vale as de pacotinho) e um generoso punhado de salsinha picada.
Finalizando
Corrija o sal, se necessário, e polvilhe pimenta moída na hora. Antes que os ovos fiquem ressecados, desligue o fogo e regue tudo com um fio de azeite.
É rápido de fazer e deve ir sem escalas do fogão para a mesa. Pode ser acompanhado com arroz ou simplesmente com um pão bem fresquinho. Mas sozinho o prato não faz feio.
Aqui em casa é uma das formas mais repetidas de bacalhau.
Acho que assim, nunca provei… Ainda bem que já sei o que vai depois dos ovos!
Ai que delícia Gastão, e parece simples de fazer mesmo. Estes dias fizemos em casa os nhoques de batata baroa com a carne assada, e ficou uma delícia. Teu blogue é inspirador e gostoso de ler e de fazer. Beijão
Coisa boa, Mª Elisa! A ideia é essa mesmo: ir compartilhando coisas boas, aprendendo outras e inventando mais algumas.
Adorei a simplicidade da receita e acabei me aventurando pela primeira vez com o bacalhau! Ficou muito bom, mas como não achei o chamado legítimo bacalhau fiz com o COD Gadus Macrocephalus ou Bacalhau do Pacífico (achei prático, pois como comprei congelado já estava sem sal e sem espinhas), mas fiquei imaginando como deve ficar melhor ainda com o chamado Cod Gadus Morhua (o dito legítimo bacalhau). Obrigada por compartilhar esta receita. um abraço
Alice, só um coisa a dizer: bacalhau é tudo de bom.
Para algumas receitas (especialmente os desfiados) pode-se usar o “falso bacalhau” que é o nosso peixe local abrotea. Sem querer falar mal, em muito restaurante chiques servem abrótea por bacalhau… Mas na verdade nada se compara ao velho e bom cod da noruega.
Abçs