Para onde leva a estrada do inferno? (ou: come-se bem em Mostardas)

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Além de cozinhar, eu e Soninha fazemos muitas coisas juntos (ok, podem dar asas às suas imaginações devassas!), inclusive viajar. No último final de semana pude acompanhá-la em uma viagem de trabalho a Rio Grande, no RS, e escolhemos como caminho a RS 101, que já foi conhecida como estrada do inferno, antes de ser asfaltadas. No final da Estrada do Mar se pega a esquerda e segue-se por pequenos municípios como Capivari, Mostardas e Tavares, até chegar em São José do Norte, onde se pega uma balsa para atravessar a Lagoa dos Patos e chegar a Rio Grande.

Sempre que se viaja há uma certa expectativa com relação a aventuras gastronômicas. Quando chegou a hora do almoço do primeiro dia de viagem estávamos em Mostardas, já com fome. Nosso amigo Mauro Passos, que faz costumeiramente este roteiro que leva à sua cidade natal, nos recomendou em Mostardas o restaurante Ed Mundo`s, que se não é o único, é um dos poucos lugares para se comer na cidadezinha espremida entre o oceano e a Lagoa dos Patos.

O cardápio é bem caseiro e o lugar medianamente movimentado. Tudo muito simples, espartano. Nas opções de almoço o tradicional “ala minuta” (arroz, feijão, bife, ovo frito, batata frita e salada) que a gauchada adora. E várias sugestões de filets tradicionais. “O peixe já foi todo hoje, só temos carne”, disse a simpática garçonete, provavelmente esposa do seu Edmundo.

Optamos por um filet acebolado. Veio amparado por salada fresca, fritas honestas, arroz e um feijão com o tempero no ponto. Os filets chegaram numa frigideirinha de ferro muito charmosa, em porção mais do que suficiente para duas pessoas, com a carne no ponto certo e a cebola com a crocância que lhe é de direito.

O preço: R$ 32,00 para duas pessoas que saíram satisfeitas e felizes com aquele almoço trivial, mas servido com capricho e respeito. Nota 10 para alta gastronomia de mostardense.

Já em Rio Grande escolhemos jantar no restaurante do hotel Atlântico, onde estávamos hospedados. Tudo com certa pompa, garçons que falam curvados com uma mão às costas e tudo mais. Cardápio cheio de opções vistosas… no papel.

Soninha escolheu um risoto de camarão. E logo na primeira garfada ela, que é comedida com as palavras, disparou: “está horrível”. O risoto, feito com arroz comum (não arbóreo) passado do ponto veio com camarões miúdos com o gosto que denuncia os dias que passou no congelador, e o exagero na cocção deixou o crustáceo lamentavelmente borrachento. Sem falar na inexplicável decoração com fatias de pimentões e morangos. E tudo coroado com um ovo cozido cortado em quatro partes como a formar uma flor. Patético. Preço? R$ 34,00. Não seria muito se o prato fosse razoável.

Eu pedi uma picanha grelhada que veio cortada em “borboleta” que a deixa fininha, e veio guarnecida por fritas indisfarçadamente destas que, pré-cozidas, que vão do freezer à frigideira. Além disso, um arroz normal e uma farofa sem brilho. Mais R$ 28,00.

Na noite seguinte, após um dia em que nos abastecemos num restaurante a quilo que pede esquecimento, resolvemos comer bem. Entre as poucas opções que Rio Grande oferece está o Marco`s (sim, com apóstrofe) que é o restaurante de frutos do mar com filial em Porto Alegre e indicação da Veja para melhor restaurante.

Ambiente pequeno, bom piano ao vivo e cadeiras desconfortáveis. Cardápio imponente, mas bem tradicional. Escolhemos o Camarão Mediterrâneo que, segundo o cardápio, era preparado com ervas e compota de tomates e acompanhado por penne ao molho de parmesão.

Solenemente o garçom trouxe os dois pratos fundos adequados para massas. Na base os penne com o bom molho de parmesão e ao centro, sobre a massa, em cada prato, cerca de oito camarões de médios para baixo no molho de tomate que foi denominado compota. Não era ruim, mais pelo preço que passou de R$ 80,00 para dois o chef precisava ter caprichado mais. Talvez ele tenha faltado a aula onde se ensinou a expressão al dente para massas, já que o penne estava pra lá de passado. As ervas do camarão mal deram o ar da graça e deixaram poucos vestígios no sabor. E a falha capital: o camarão certamente havia sido congelado e foi cozido demais, ficando tão borrachudo quanto o do hotel Atlântico.

Moral da história: se na escala das expectativas o Ed Mundo`s estava no fim da fila, no quesito satisfação do cliente ele deu de dez nos estabelecimentos que tentam ser mais do que são e esquecem que não há restaurante sem boa comida.

Se um dia o destino fizer você passar em Mostardas, vá no Ed Mundo`s. É só um filezinho, honesto e saboroso. Mas ninguém se arrepende.

PS: Fala-se que Mostardas produz a melhor carne de cordeiro do país. Mas isto é coisa para conferir em outra passagem por lá.

3 COMENTÁRIOS

  1. Caro amigo,
    eu que sou lá das bandas de Rio Grande (nasci em Pelotas, mas minha família toda mora em Rio Grande) vou começar a viajar pela “Estrada do Inferno” (estrada está boa?). Mas a diga do restaurante na estrada é ótima vou conferir no próximo Natal. E outra: Rio Grande é ruim de restaurante mesmo. Quando saio lá é só pra comer bauru. Grande abraço. Ótimo site .

    • Marcão!!
      A estrada é boa, mas tem um trecho lamentável entre Bacopari e Mostardas, com crateras capazes de danificar gravemente um carro. O resto é excelente e com pouco movimento. Mas presta atenção no horário das balsas de São José do Norte, que a última é as 17 horas.

      Abçs

  2. Na 101, vez por outro, almoço no Restaurante Silveira, na antena da Casca, antes de chegar a Solidão, pra quem desce.

    Comida caseira honesta, preparado pela D. Cleuza.
    Normalmente tem algum tipo de peixe frito.

    O difícil mesmo é comer uma boa carne de cordeiro no município de Mostardas, supostamente o melhor produtor da carne de ovelha do Brasil.

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